Infância Roubada
Por: Daniele Júlia Nascimento Martí
Tenho peninha das crianças e
jovens de hoje em dia...
Vão para creches e escolinhas
desde os 3 ou 4 meses de idade, têm obrigatoriedade de frequência na educação
infantil desde os 4 anos e são, então, colocados em mesinhas por horas a fio, sem
muitos recursos muitas vezes sem tateio, livre expressão de fato, sem materiais adequados ou sem materiais mesmo. A
proposta pedagógica de muitas dessas escolas, quando a têm, são voltadas para a
alfabetização e visando o ingresso no ensino fundamental.
Ah, que peninha que me dá dessas
crianças, confinadas em prédios gigantescos, ou em locais de pouco arranjo para
atender o que a primeira infância pede, sem texturas, sem movimentos, sem
emoção, sem o que há de mais importante, sem a liberdade para ser criança de
verdade. Seguem rumo ao 1º ano, concebido inicialmente como um momento lúdico
dentro do ensino fundamental, então acabam sendo obrigados a aprender a ler e escrever a qualquer custo. Visando que nas séries
iniciais do ensino fundamental a criança se alfabetize, os professores ficam
tão envolvidos e preocupados que não conseguem oferecer o que mais é
fundamental na infância, a ser crianças de verdade.
E então essas criaturinhas vão
para os anos finais do 1º ciclo e começa uma busca incessante em treiná-los para
que saiam-se bem nas provas externas que
acontecem no 5º ano. E ao chegar lá, treina-os para encarar o ensino
fundamental no 2º ciclo, e mais provas externas e então saíram da infância,
passaram pela adolescência e não viveram.
Saindo então dessa fase, vão para
o tão sonhado Ensino Médio, e ao chegar em qualquer escola, os pais se deparam
com propagandas incisivas de que “Aqui trabalhamos focados nos Vestibular”,
como se a vida fosse isso, um focar em avaliações. Ao sair do Ensino Médio,
tenho peninha de nossos jovens, pressionados pelas expectativas mais dos pais e
familiares do que deles mesmos, rumam perdidos e ansiosos ao ENEM.
E quando chegam atrasados aos portões dos locais de prova, choram passam mal, como se aquela fosse a última oportunidade de uma vida, uma vida, que mal sabem, está apenas começando. Ou quando não são aprovados, sentem-se menos importantes, deprimidos, com a autoestima rebaixada, tudo porque passaram a vida pensando nessa meta, quando deveriam pensar que esta é apenas mais uma etapa.
Tenho peninha desses jovens,
crianças que cresceram sem lhes ser dada a oportunidade de serem crianças, como
éramos em outras épocas, que brincamos na rua, subimos em árvores, brincamos de
médico, professor, de químico, cozinheiro, de engenheiro, advogado... muitas
vezes nem puderam vivenciar habilidades e não puderam ‘exercer’ por meio da
imitação seus desejos nas brincadeiras, nos jogos simbólicos da infância que
lhes foi roubada, não puderam tatear, nem se expressar, não foram trabalhadas
todas as suas competências, não aquelas das provas externas, mas as
competências de vida, de descobrimento do que lhe dá prazer, podaram o prazer
pela descoberta e serão jogados no mundo do trabalho e muitas vezes serão
adultos frustrados. Crianças grandes, imaturas, que não resistem às
frustrações. Não se firmaram na vida, pois a infância, a brincadeira (Coisa
séria, de verdade) está sendo negligenciada por todos nós.
O que estamos fazendo para nossas
crianças, só o futuro dirá... e não está longe a resposta.
E você, o que acha disso?
Professora de Ensino Fundamental e Ed. Infantil, há 17 anos
Pedagoga Especialista em Gestão de Instituições Educacionais Especialista em Tecnologias Educacionais Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil e Ensino Fundamental de escolas municipais (rurais e urbanas).
Fui Tutora Pedagógica Especialista em Curso de Licenciatura em Pedagogia (pela Unicoc) Coordenadora e Formadora de Programa de Formação de Professores em Tecnologias Educacionais, que abrange a dimensão de formação, fornecimento de equipamentos e materiais digitais - Proinfo Integrado da SEED/ MEC - governo federal do Brasil (de 2008 a 2011) Coordenadora na Implantação de Sistema de Gestão - Planeta Educação - Future Kids - Vitae (Coordenei a implantação do sistema, sua alimentação e manutenção, emissão de boletins e históricos, de junho de 2009 a maio de 2010, na rede municipal de Itupeva, quando o contrato foi rescindido, liderando pessoal de apoio administrativo em 26 escolas municipais), além de cuidar da manutenção com informações, curiosidades e matérias relacionadas à educação no site da Diretoria de Educação de Itupeva/SP, neste mesmo período. Assessoria Pedagógica, Administrativa e Tecnológica em montagem de escolas e creches desde o esboço do projeto até sua implantação, e acompanhamento nas diversas dimensões da Gestão Educacional.
Membro da Diretoria Executiva e Coordenadora de Tecnologias Educacionais da Abrapee Nacional e Estadual de SP
Presidente da Abrapee - Extensão Regional do Aglomerado Urbano de Jundiaí, Campinas e Região e da Extensão Muncipal de Itupeva
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