Desafios para o novo Gestor da Educação: Educação Integral e Plural, Dialogicidade, Interdisciplinaridade na Construção de um Currículo para a Rede
Este é o quinto texto que faz parte da série que pretende debater aspectos da educação municipal, como desafios para a nova gestão da Prefeitura Municipal de Itupeva/SP e sua Secretaria de Educação.
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Ao instituir na Rede de Ensino de Itupeva as novas disciplinas do currículo: Inglês, Filosofia, Música e Robótica, a administração (2013 a 2016) atendeu à Lei Federal nº 11.738 / 2008, conhecida como "Lei do Piso", porém em que, além de horas de estudo aos professores, essa nova grade curricular pode favorecer a educação de melhor qualidade que queremos?
A interdisciplinaridade é discutida no Brasil desde a década de 1970, e no decorrer dos anos muitas foram as definições e entendimentos sobre essa temática. Duas vertentes se destacam:
- um diálogo integrativo entre diferentes disciplina;
- desenvolvimento do currículo da educação básica, pensando estratégias para a integrar disciplinas, como as matérias do currículo escolar. É importante destacar que, ao representar um princípio de integração das disciplinas escolares, dessa forma estabelecendo um modo de pensar e produzir o currículo escolar contrastando com a tendência tradicional de recorte e especialização do conhecimento.
Muito além de construir pontes entre as disciplinas elencadas, mais do que cada professor buscar em sua individualidade temas a serem estudados, debatidos e refletidos em outras áreas ou articulando conteúdos elencados em uma lista, na forma como o currículo, comumentemente, é concebido, a interdisciplinaridade deve ser integrada a ele de forma a ser garantida a construção plural do conhecimento.
A melhor forma pra que isso aconteça é a partir da elaboração conjunta de Projetos que norteiem a ação de alunos e professores em empreender investigação sobre determinado tema.
Dessa forma, mais do que sugerir o estudo integrado de disciplinas individuais, busca-se uma integração, uma nova forma de construção deste currículo. É fundamental pensar nessa construção, não apenas em sua perspectiva epistemológica, mas também em seu design. Antes de mais nada é preciso pensar qual é a educação que queremos, que tipo de cidadão estamos educando e queremos formar.
A Filosofia na escola de Ensino Fundamental 1, ao meu ver, deve enfatizar e trabalhar no sentido de buscar em nossos educandos reflexões a cerca de si próprio, do seu cotidiano e do seu entorno.
Percebo, muitas vezes que, os desafios no trabalho com crianças se refere à maneira como as teorias lhes são apresentadas, dificilmente o professor revela o processo por intermédio do qual obteve-se a resolução de uma questão. Sendo assim, os alunos são impelidos a decorar fórmulas e regras que em si mesmas têm pouco ou nenhum sentido relacionado à sua práxis, o que, por extensão, torna o aprendizado entediante e descontextualizado para eles, uma vez que o resultado já pronto priva-os de conhecer o percurso que foi feito para alcançá-lo enquanto teoria científica. Isso também acontece quando se trabalha a Filosofia nas escolas sem dar margem aos alunos a refletirem de fato as questões cotidianas e não lhe damos a oportunidade de expressar suas próprias ideias e pensamentos. Ainda, quando se fixa em teorias muito distantes da realidade deles.
Visto que, as crianças com as quais trabalhamos a Filosofia na escola no município de Itupeva têm a faixa etária de 6 a 10 anos, encontrando-se em estágio Pré-operatório onde a criança já está em um período intuitivo, centrado na percepção e não na imaginação, logo é menos egocêntrico, mas pouco flexível, preso aos acontecimentos particulares, às impressões sensíveis em transição para o estágio das Operações Concretas.
No estágio das Operações Concretas que vai dos 7 aos 11 anos, a criança, segundo Piaget, reorganiza verdadeiramente o pensamento. Já no estágio anterior as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o real com a fantasia. É neste estágio que a criança adquire a capacidade de realizar operações. Podemos definir operação como a ação interiorizada composta por várias ações e reversível, pois pode voltar ao ponto de partida. A criança já consegue realizar operações, no entanto, precisa de realidade concreta para realizar as mesmas, ou seja, tem que ter a noção da realidade para que lhe seja possível efetuar as operações. Portanto, não podemos falar de Sócrates e Platão para a criança se ela não conhece a si mesma e o meio que a cerca, se ela ainda não compreendeu as relações que acontecem em seu meio e o que representam.
Nesse estágio, quanto ao Espaço, a criança vai conhecendo os vários espaços nos quais interage, organizando-os. Também aqui está presente a reversibilidade do real, onde o conceito de espaço está relacionado com o conceito de operação. O espaço isolado por si só não existe. Quanto ao Tempo, não há reversibilidade do real, o tempo existe apenas no nosso pensamento, os acontecimentos sucedem-se num determinado espaço, e o tempo vai agrupando-os.¹
Ela ainda precisa estar em contato com a realidade, assim seu pensamento é descritivo e intuitivo (partindo do particular para o geral). Ao longo deste período já não tem dificuldade em distinguir o mundo real da fantasia. Também já interiorizou algumas regras sociais e morais e, dessa forma, as cumpre para se proteger. A partir daí a criança começa a valorizar o grupo de amigos, adquirindo valores tais como a amizade, companheirismo, partilha, etc., aí também há o destaque para os que têm liderança. Portanto é nessa fase que se faz necessário refletir sobre moralidade, ética e valores, baseando-se em situações problemáticas do cotidiano vivenciado por eles.
Para Martin Buber, a essência da atividade do educador é ensinar sem se perceber como tal, uma vez que quem realmente educa é o mundo, com isso conclui-se que para acontecer uma educação filosófica verdadeira é necessário que haja um diálogo investigativo.
Para Lipman, o pensamento e a opinião da criança devem ser levados em consideração, sempre, devendo-se aceitar tanto pensamentos cuidadosos, quanto aqueles mais intempestivos, ambos auxiliam na reflexão acerca do mundo. O que contribui para a elevação da autoestima, pois a criança percebe que seu ponto de vista também é levado em conta.
Assim, intermediado pela vivência dos conceitos de filosofia que transcendem a todos as áreas do conhecimento, os alunos desenvolvem-se mais críticos, inquiridores e seguros da sua própria capacidade de aprender, apreender e dar, eles mesmos, suas próprias contribuições aos diferentes domínios do saber humano.
Quanto à Música, sabe-se que é considerada como Linguagem Universal, o que a torna uma área muito vasta para se trabalhar com a sensibilidade, com a estética, com ritmo, a
compasso, favorecendo o desenvolvimento cerebral, a cognição, o raciocínio, e muito além disso a música proporciona a reflexão, o conhecimento e um olhar mais apurado para a realidade, do tempo e do espaço, através da arte. A partir da Música é possível conhecer a nossa história, a história da humanidade a através de suas produções culturais, valorizando-os.
Tenho como concepção que a Arte deva ser valorizada, em todas as suas linguagens por nos permitir crescer enquanto seres humanos, plurais, integrais, expressivos, tornando-nos mais sensíveis, pois acredito, como Paulo Freire, que a função da Educação é humanizar o ser humano, tornando-o cada vez mais humano, é garantir tal desenvolvimento nos educandos. Enquanto se nega a humanidade a muitos, a missão em se educar está em se devolver a humanidade.
Ao se falar em Humanidade, precisamos pensar também nas questões tecnológicas que envolvem a humanidade, refletir essas questões é fundamental para que o aluno perceba que a tecnologia deve estar a serviço da humanidade e também da educação. É fundamental que se tenha as Tecnologias aliadas à Educação nesse sentido.
Em Inglês creio que o trabalho deva ser também de maneira interdisciplinar e conjunta, buscando a pluralidade e divulgação de culturas, a partir de projetos envolvendo as novas tecnologias, onde o conhecimento seja desenvolvido a partir de situações reais do uso da língua.
Tornar a educação plural vai além do que temos visto, pois conforme o Programa Mais Educação ela busca mais que uma escola integral, mas que toda criança na escola fosse tratada como gente, respeitada e trabalhada em sua integralidade, segundo Miguel Arroyo².
Segundo ele, a escola tem que se integrar com uma pluralidade de forças para dar conta da educação integral.
“A VIDA É DIALÓGICA POR NATUREZA. VIVER SIGNIFICA PARTICIPAR DE UM DIÁLOGO: INTERROGAR, ESCUTAR, RESPONDER, CONCORDAR ETC. NESTE DIÁLOGO O HOMEM PARTICIPA TODO E COM TODA A SUA VIDA: COM OS OLHOS, OS LÁBIOS, AS MÃOS, A ALMA, O ESPÍRITO, COM O CORPO TODO, COM SUAS AÇÕES. ELE SE PÕE TODO NA PALAVRA, E ESTA PALAVRA ENTRA NO TECIDO DIALÓGICO DA EXISTÊNCIA HUMANA, NO SIMPÓSIO UNIVERSAL.” (BAKHTIN, 2013)
Este tipo de trabalho considera que a Educação sempre é carregado de dialogismo, que os textos e conteúdos são carregados de hipertextualidade, garantindo “multiletramentos”, contribuindo para a aproximação da realidade cotidiana de nossos educandos, para além dos programas pré-fixados que temos hoje, permitindo uma Educação Plural e Dialógica que demandamos em nosso tempo.
Para que tudo isso seja uma realidade, não há milagre a ser feito, apenas uma palavra de ordem há nesse sentido e em basicamente todos os Desafios elencados até o momento: Formação em Serviço que dialogue (também) com a prática. Para que professores possam conhecer, debater, desenvolver habilidades e competências voltadas para esse trabalho.
Para o professor também estão postos novos desafios, não mais tão somente o de como ensinar, mas como o de aprender. Isso requer uma nova postura docente no sentido de modificar as formas de trabalhar com o conhecimento e a informação, não mais como transmissor e sim como um facilitador de aprendizagens. Contudo, não é de uma hora para outra que esses profissionais se farão diferentes, é necessário que sua formação seja permanente e aconteça dentro de sua esfera de trabalho, onde sua realidade seja contemplada, onde possa trocar informações e conhecimentos com seus pares e onde possa também ensinar.
Aos gestores educacionais o desafio é o de promover Políticas Públicas que garantam esse movimento e investimento.
² https://educacaoeparticipacao.org.br/acontece/miguel-arroyo-a-escola-tem-que-se-integrar-com-uma-pluralidade-de-forcas-para-dar-conta-da-educacao-integral/
Referências
BAKHTIN. M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003
http://portal.mec.gov.br/busca-geral/211-noticias/218175739/11987-sp-1270543287
BAKHTIN. M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003
http://portal.mec.gov.br/busca-geral/211-noticias/218175739/11987-sp-1270543287
http://segredosdapsicologia.webnode.com.pt/introdu%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20psicologia/crescimento-desenvolvimento-e-envelhecimento/desenvolvimento%20ao%20longo%20da%20inf%C3%A2ncia%20e%20adolesc%C3%AAncia/desenvolvimento-cognitivo2/piaget-e-os-estadios/
http://www.faesi.com.br/nucleo-de-pesquisa-cientifica/75-portal-do-saber/238-a-musica-como-recurso-pedagogico-no-contexto-da-educacao-especial
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Daniele Júlia Nascimento Martí
Professora de Ensino Fundamental e Ed. Infantil, há 19 anos
Pedagoga (PUC/ SP)
Especialista em Gestão de Instituições Educacionais (UNICOC) e em Especialista em Tecnologias Educacionais (PUC/Rio)
Fui Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil e Ensino Fundamental de escolas municipais (rurais e urbanas).
Especialista em Gestão de Instituições Educacionais (UNICOC) e em Especialista em Tecnologias Educacionais (PUC/Rio)
Fui Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil e Ensino Fundamental de escolas municipais (rurais e urbanas).
Fui Tutora Pedagógica Especialista em Curso de Licenciatura em Pedagogia (pela Unicoc) Coordenadora e Formadora de Programa de Formação de Professores em Tecnologias Educacionais, que abrange a dimensão de formação, fornecimento de equipamentos e materiais digitais - Proinfo Integrado da SEED/ MEC - governo federal do Brasil (de 2008 a 2011), Coordenadora na Implantação de Sistema de Gestão - Planeta Educação - Future Kids - Vitae (Coordenei a implantação do sistema, sua alimentação e manutenção, emissão de boletins e históricos, de junho de 2009 a maio de 2010, na rede municipal de Itupeva, quando o contrato foi rescindido, liderando pessoal de apoio administrativo em 26 escolas municipais), além de cuidar da manutenção com informações, curiosidades e matérias relacionadas à educação no site da Diretoria de Educação de Itupeva/SP, neste mesmo período. Assessoria Pedagógica, Administrativa e Tecnológica em montagem de escolas e creches desde o esboço do projeto até sua implantação, e acompanhamento nas diversas dimensões da Gestão Educacional.
Membro da Diretoria Executiva e Coordenadora de Tecnologias Educacionais da Abrapee Nacional e Estadual de SP
Presidente da Abrapee - Extensão Regional do Aglomerado Urbano de Jundiaí, Campinas e Região e da Extensão Muncipal de Itupeva
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