Desconstruir para promover Aprendizagem Híbrida e sua Personalização

Falar em Personalização da Aprendizagem é algo fundamental na Educação que queremos. Transformar espaços é o primeiro passo para tanto. 

A Personalização diz respeito a proporcionar ao aluno aprendizagem de acordo com suas necessidades e possibilidades. Não se pode mais admitir uma sala de aula onde o professor fica à frente da classe e é o transmissor do Conhecimento. Conhecimento se constrói, pelo tateio, pela investigação, pela curiosidade, pela necessidade de aprender sobre algo, um fenômeno, um problema.

Híbrido, significa misturado, mesclado, blended, segundo Moran. ¹

A primeira etapa para se investir nesse novo modelo de aprendizagem é desconstruir a ideia que se tem de que só se aprende em fileiras, ouvindo em silêncio, passivamente. 

Nessa questão é imprescindível que o professor seja capacitado para isso, promover a formação em serviço para o uso das tecnologias e para a mudança de paradigma, como já tenho falado há algum tempo, é urgente. Já  que as novas formas de aprender estão colocadas e o professor ainda reluta, muitas vezes em encarar o desafio, muitas vezes por desconhecimento das possibilidades.

É necessário que se tenha em mente outras formas de aprender, e principalmente, faz-se urgente levarmos em conta os Pilares de Jacques Delors para a educação do Século XXI que dizem respeito à:

  1. aprender a conhecer (adquirir instrumentos de compreensão);
  2. aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente);
  3. aprender a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humanas), e finalmente;
  4. aprender a ser (conceito principal que integra todos os anteriores)¹.  
Para Morin (2000), são imprescindíveis que:

Evitemos as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
Estamos todos sujeitos ao erro e a ilusão. É preciso levar o erro em conta desde muito cedo, fazendo-se deste um problema de todos. É preciso explorar as possibilidades de erro para ter condições de perceber a realidade.

Conheçamos os princípios do conhecimento pertinente:
É preciso ter uma visão ampla, com capacidade de percepção do conjunto. Colocar o conhecimento no contexto é necessário, pois não é a quantidade de informações, nem a sofisticação, que podem fornecer sozinhas um conhecimento pertinente.


O contexto tem necessidade de seu próprio contexto. E o conhecimento, atualmente, deve se referir ao global.

Ensinemos a condição humana
Não se pode ignorar nossa identidade nos programas de instrução. 

Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie. Ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade, temos a sociedade como parte de nós, pois desde o nosso nascimento a cultura nos imprime.

O relacionamento entre indivíduo-sociedade-espécie é como a trindade divina, um dos termos gera o outro e um se encontra no outro. A realidade humana é trinitária. É preciso refletir sobre a nossa espécie como necessária dentro do ecossistema e do ecossistema, como um todo, para nossa espécie.

Ensinemos a compreensão
A palavra compreender vem do latim, compreendere, que quer dizer: colocar junto todos os elementos de explicação, ou seja, não ter somente um elemento de explicação, mas diversos. Portanto, devemos saber que é preciso preocupar-se em ensinar a compreender.

O individualismo ganha um espaço cada vez maior em nossa sociedade, isso tem favorecido o sentido de responsabilidade individual, que desenvolve o egocentrismo, o egoísmo e que, consequentemente, alimenta a autojustificação e a rejeição ao próximo.

Faz-se necessário compreender não só os outros como a si mesmo, a necessidade de se autoexaminar, de analisar a autojustificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão.


Enfrentemos as incertezas

Apesar das escolas ensinarem somente as certezas é necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na história, o surgimento do inesperado.

O inesperado sempre aconteceu e acontecerá, porque não temos futuro e não temos certeza nenhuma dele. As previsões não foram concretizadas, não existe determinismo do progresso.

Ensinemos a identidade terrena
O fenômeno da globalização que estamos vivendo hoje desde o século XVI (com a colonização da América e a interligação de toda a humanidade), com isso o crescimento da ameaça letal se expande em vez de diminuir: a ameaça nuclear, a ameaça ecológica, a degradação da vida planetária.

É necessário ensinar que não é suficiente reduzir a um só a complexidade dos problemas importantes do planeta, como a demografia, a escassez de alimentos, a bomba atômica ou a ecologia. Os problemas estão todos amarrados uns aos outros. É preciso mostrar que a humanidade vive agora uma comunidade de destino comum.

Reflitamos e vivamos com ética do gênero humano
Os problemas da moral e da ética diferem da cultura e da natureza humana. Existe um aspecto individual, outro social e outro genético, de espécie.

Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), assim, nossa participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum.

Precisamos transformar a concepção fragmentada e dividida do mundo, que impede a visão total da realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para governantes.

E hoje que o planeta já está, ao mesmo tempo, unido e fragmentado, começa a se desenvolver uma ética do gênero humano, para que possamos superar esse estado de caos.

Contudo isso exposto, proposto em Conferências da UNESCO, é preciso parar e refletir que tipo de educação temos desenvolvido, ainda em pleno ano de 2017, há quase 2 décadas dessas propostas, pouco ou nada mudou.

A velocidade com que o grande volume de produção de conhecimento é propagada não condiz com o Ensino que temos.

Está nas mãos de todos nós buscar novas formas de aprender e ensinar. Desta forma, a personalização na aprendizagem híbrida é uma das propostas que mais vão ao encontro desse novo ser humano que se apresenta e adentra cotidianamente em nossas salas de aula.

Na personalização da aprendizagem, a mesma pode acontecer em todo e qualquer espaço, da sala de aula à cozinha da escola. A escola, pode e deve se transformar em um conjunto de espaços ricos em aprendizagem, em que o educando pesquisa e constrói seu conhecimento, mediado pelo professor, tornando-se proativo, aprendendo a aprender, sabendo tomar iniciativas e interagir.

Nesse novo modelo de educação, o educando tem muitos benefícios, entre eles a substituição da frustração por não aprender como os colegas e não acompanhar o ritmo da turma, por  exemplo, pela motivação, além da maximização do aprendizado, tendo em vista as várias formas de aprender que se lhe apresentam: Individualmente, em grupos, através das tecnologias.

Para favorecer esse movimento, as escolas que têm adotado esse modelo de aprendizagem, são chamadas inovadoras, e nelas as "salas de aula" são organizadas de forma diferente, centradas no educando, onde se equilibram os tempos em atividades individuais, com as do grupo, com supervisão de 2 professores de áreas diferentes, por exemplo, matemática e português, que elaboram em conjunto com os educandos projetos que sejam integreadores, interdisiciplinares, permitindo uma abrangência maior de olhares, em assembleias e individualmente. Os educandos nessas escolas realizam avaliações quando sentem-se prontos para tal. As competências socioemocionais são trabalhadas com ênfase. 

É necessário e urgente, repensar nesses espaços tão quadrados que temos, para ambiente mais amplos e integrados.

Para aqueles que se preocupam com dados, e se os educandos irão aprender de forma tão mais independente e livre, cabe estudar quais os resultados esses educandos de escolas inovadoras dentro e fora do Brasil, têm obtido principalmente em avaliações externas.

É preciso, acompanhar a velocidade de desenvolvimento das tecnologias, das novas formas de aprender.

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¹ Moran, José. Educação Híbrida - U, Conceito-chave para a Educação, hoje. in Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação/ organizadores, Leilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto, Fernando de Melo Trevizani. - Porto Alegre: Penso, 2015. 270 p. il.

² https://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Pilares_da_Educa%C3%A7%C3%A3o


Morin, Edgar, 1921- Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin ; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão téc

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Daniele Júlia Nascimento Martí

Professora de Ensino Fundamental e Ed. Infantil, há 19 anos, atuando como diretora de Escola em Tempo Integral em Itupeva/ SP.
Pedagoga (PUC/ SP)

Especialista em Gestão de Instituições Educacionais (UNICOC) e em Especialista em Tecnologias Educacionais (PUC/Rio)
Fui Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil e Ensino Fundamental de escolas municipais (rurais e urbanas).

Fui Tutora Pedagógica Especialista em Curso de Licenciatura em Pedagogia (pela Unicoc) Coordenadora e Formadora de Programa de Formação de Professores em Tecnologias Educacionais, que abrange a dimensão de formação, fornecimento de equipamentos e materiais digitais - Proinfo Integrado da SEED/ MEC - governo federal do Brasil (de 2008 a 2011), Coordenadora na Implantação de Sistema de Gestão - Planeta Educação - Future Kids - Vitae (Coordenei a implantação do sistema, sua alimentação e manutenção, emissão de boletins e históricos, de junho de 2009 a maio de 2010, na rede municipal de Itupeva, quando o contrato foi rescindido, liderando pessoal de apoio administrativo em 26 escolas municipais), além de cuidar da manutenção com informações, curiosidades e matérias relacionadas à educação no site da Diretoria de Educação de Itupeva/SP, neste mesmo período. Assessoria Pedagógica, Administrativa e Tecnológica em montagem de escolas e creches desde o esboço do projeto até sua implantação, e acompanhamento nas diversas dimensões da Gestão Educacional. Membro da Diretoria Executiva e Coordenadora de Tecnologias Educacionais da Abrapee Nacional e Estadual de SP

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